Assentos de carro com couro ligados à destruição ilegal da floresta amazônica

Uma nova investigação da Agência de Investigação Ambiental (EIA), chamado “Desmatamento no assento dianteiro“, revelou como os assentos de couro utilizados por muitas das marcas mais emblemáticas de automóveis estão ligados ao desmatamento ilegal na Amazônia brasileira.

Os investigadores da EIA analisaram documentos de transporte de gado do estado amazônico de Rondônia e realizaram entrevistas e pesquisas de campo para documentar como milhares de cabeças de gado de fazendas com desmatamento ilegal entraram nas cadeias de fornecimento dos principais fabricantes de couro do Brasil, que abastecem a indústria automotiva mundial. A EIA acompanhou os movimentos de cerca de 147.000 vacas de mais de 700 fazendas ilegais localizadas na área protegida de Jaci-Paraná, onde invasões ilegais por pecuaristas estão causando um desmatamento generalizado. Além disso, o gado foi rastreado até outras fazendas onde imagens de satélite mostram gado pastando em áreas desmatadas ilegalmente e embargadas pelas agências estatais que monitoram o cumprimento da lei.

O gado proveniente dessas áreas entrou nas cadeias produtivas de curtumes controladas pelos principais produtores de couro do Brasil, como JBS, Vancouros e Viposa, que são fornecedores da principal fabricante de assentos de automóveis do mundo, a corporação Lear. Aproximadamente um em cada cinco assentos de carro de couro do mundo é fabricado pela Lear com couro de origem brasileira. A Lear fornece assentos para marcas de carros como GM, Ford, Volkswagen, BMW e Daimler.

Apesar de a indústria afirmar o contrário, o couro não é apenas um subproduto da indústria de carnes do Brasil. A venda de couros é uma importante fonte de lucro para um abatedouro em uma indústria onde as margens podem ser estreitas. Mais de 80% do couro produzido no país é exportado, com um valor de US$ 1,4 bilhão em 2021, sendo a China, a UE e os Estados Unidos os três principais destinos. A indústria automotiva mundial é um dos maiores usuários finais de couro do Brasil.

O relatório descreve como as complexas cadeias de abastecimento e o abuso de guias de trânsito animal facilitam a lavagem de gado criado ilegalmente. A grande maioria das vacas rastreadas pela EIA na área protegida foram transferidas para dois intermediários antes de chegar a um abatedouro. Os atuais sistemas de monitoramento das empresas se concentram apenas nas fazendas que as abastecem diretamente e são insuficientes para manter o desmatamento fora de suas cadeias produtivas.

O gerente de investigações da EIA de commodities relacionadas ao desmatamento, Rick Jacobsen, disse: “As marcas de automóveis internacionais que usam assentos feitos com couro do Brasil correm o risco de se tornarem cúmplices do desmatamento ilegal na Amazônia, a menos que saibam de onde o gado foi criado. A rastreabilidade total de vacas individuais desde o nascimento até o abate deve ser exigida pelo governo brasileiro e pelos reguladores dos mercados consumidores, implementando medidas para remover o desmatamento das cadeias de fornecimento de commodities”.

O relatório insta os principais países importadores a aprovarem leis eficazes de devida diligência para manter os bens associados ao desmatamento e crimes florestais fora do mercado internacional. Especificamente, pede aos Estados Unidos que aprovem uma proposta de lei, chamada FORESTAct (H.R. 5508/S. 2950), que pode garantir importações livres de desmatamento de commodities, e à UE que implemente sua regulamentação contra o desmatamento.

Contato: Rick Jacobsen, gerente de investigações de commodities relacionadas ao desmatamento, EIA, Campanha de Florestas, [email protected]

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